Tratamento Full Face: Combinação de Tratamentos, Escolha de Produtos e Longevidade dos Resultados
Tratamento Full Face: Combinação de Tratamentos, Escolha de Produtos e Longevidade dos Resultados
A abordagem full face com preenchedores faciais permite resultados mais naturais e harmoniosos. Novas evidências sugerem que o ácido hialurônico pode durar muito mais do que se pensava anteriormente.
Tratamento Full Face: Combinação de Tratamentos, Escolha de Produtos e Longevidade dos Resultados
Nos últimos anos, as técnicas de harmonização facial com preenchedores evoluíram significativamente, passando de um foco em áreas isoladas para uma abordagem mais global, conhecida como "full face". Essa mudança foi impulsionada por um melhor entendimento da anatomia facial e pelo desenvolvimento de novos produtos e técnicas de injeção.
Tradicionalmente, os preenchedores eram usados para tratar sulcos e rugas específicos, como sulcos nasolabiais e linhas de marionete. No entanto, com o tempo, os profissionais perceberam que tratar apenas áreas isoladas poderia levar a resultados pouco naturais, ou pior, em desacordo com a anatomia facial.
A abordagem full face, via de regra, busca restaurar o volume e a estrutura facial como um todo, levando em consideração a interação entre as diferentes regiões da face.
Essa abordagem permite resultados mais suaves e naturais, evitando a aparência "preenchida" ou "artificial" que pode ocorrer quando se trata apenas áreas pontuais. Além disso, ao restaurar o volume e a sustentação das estruturas faciais, a abordagem full face pode ter um efeito "lifting" sem a necessidade de cirurgia, ainda que temporário.
Para alcançar esses resultados, é necessário conhecimento da anatomia facial e de todo o processo do envelhecimento. Desde esqueleto, gordura, músculos e pele sofrem alterações com o passar dos anos, levando à perda de volume, flacidez e surgimento de rugas. Entender como essas estruturas interagem e como podem ser tratadas com os preenchedores é fundamental para o sucesso do tratamento.
Além disso, a disponibilidade de diferentes tipos de preenchedores, com propriedades físicas e químicas distintas, permite um tratamento mais personalizado e adaptado às necessidades de cada paciente. Os preenchedores de ácido hialurônico (AH), em particular, ganharam destaque devido à sua segurança, versatilidade e capacidade de integração com os tecidos.
No entanto, para obter os melhores resultados com a abordagem full face, é necessário não apenas escolher os produtos adequados, mas também dominares técnicas de injeção e saber combiná-los de forma estratégica. Além disso, novos dados sobre a longevidade dos preenchedores de AH têm implicações importantes para o planejamento dos tratamentos e para as expectativas dos pacientes.
O objetivo deste artigo é fornecer aos profissionais as informações necessárias para oferecer aos seus pacientes tratamentos mais eficazes, naturais e duradouros.
Combinação de Tratamentos da Harmonização Facial
Uma das chaves para o sucesso da abordagem full face é a combinação estratégica de diferentes tratamentos, particularmente o uso de toxina botulínica com preenchedores de ácido hialurônico (AH). Essa sinergia permite, com os dois produtos mais conhecidos e utilizados na estética, uma abordagem mais completa e eficaz. Enquanto a toxina botulínica trata as rugas dinâmicas, os preenchedores de AH lidam com a perda de volume e as rugas estáticas. Juntos, eles podem proporcionar uma rejuvenescimento facial global, com resultados mais naturais e harmoniosos.
Um estudo conduzido por Cartier et al. (2020) demonstrou os benefícios da combinação de toxina com com preenchedores de AH e mais um produto a base de AH para melhoria da qualidade da pele (skin booster). Os pacientes receberam inicialmente um tratamento isolado com toxina ou preenchedor de AH e, após 6 e 12 meses, receberam tratamentos combinados com toxina, preenchedor de AH e skin booster. Os resultados mostraram uma melhora significativa na aparência estética global da face, na satisfação dos pacientes e na duração dos resultados nos grupos que receberam os tratamentos combinados em comparação com as terapias isoladas.
Outro ponto importante é a sequência dos tratamentos. Muitos profissionais optam por iniciar com a aplicação da toxina botulínica e, após alguns dias, realizar o preenchimento com AH. Isso permite que a toxina comece a agir e reduza a atividade muscular antes do preenchimento, o que pode ajudar a otimizar os resultados e a prevenir mudança de posicionamento do preenchedor devido à contração muscular.
Além da combinação de toxina botulínica com preenchedores de AH, a utilização de diferentes tipos de preenchedores também pode ser estratégica. A grande parte das empresas oferecem produtos com diferentes graus de reticulação e propriedades reológicas, permitindo o tratamento personalizado de diferentes áreas e profundidades da face.
Materiais com maior concentração de AH e maior G', é ideal para restaurar o volume e a estrutura das regiões mais profundas, como a projeção do malar. Materiais com propriedades intermediárias, é adequado para o tratamento de sulcos e rugas moderados, como os sulcos nasolabiais. Os de menor concentração de AH e menor G', é indicado para áreas delicadas, como a região periorbital e os lábios.
A combinação estratégica desses diferentes preenchedores permite um tratamento mais refinado e adaptado às necessidades de cada região facial. Um estudo retrospectivo conduzido por Dhillon e Patel (2020) avaliou 66 pacientes submetidos a harmonização facial completa. Os autores observaram um alto índice de satisfação dos pacientes e dos profissionais, com resultados naturais e duradouros, sem aumento significativo de efeitos adversos, mesmo com o uso de volumes maiores de preenchedores.
Escolha de Produtos
A escolha dos produtos adequados é um aspecto intrísico da abordagem full face com preenchedores faciais. Com a ampla variedade de preenchedores disponíveis no mercado, cada um com suas propriedades específicas, é fundamental que o profissional conheça as características de cada produto e saiba selecioná-los de acordo com as necessidades de cada paciente e de cada região facial.
Uma das primeiras etapas na escolha dos produtos é a análise facial e o planejamento do tratamento. Ferramentas como o MD Codes, desenvolvido por Mauricio de Maio, podem ser úteis nesse processo. O MD Codes é um sistema que divide a face em diferentes áreas e fornece um protocolo para o tratamento de cada uma delas, levando em consideração a anatomia, o envelhecimento e a harmonização facial.
Ao utilizar o MD Codes ou outras ferramentas de análise facial, o profissional pode identificar as áreas prioritárias para o tratamento e selecionar os produtos mais adequados para cada região. Em geral, a tendência é iniciar pela região lateral da face , que inclui as têmporas, malar, mandíbula e mento. Essa área é considerada a "base" da estrutura facial e sua restauração pode ter um impacto positivo nas demais regiões.
Neste caso, preenchedores com alta capacidade de sustentação e lifting, são os mais indicados.
Após o tratamento de contorno, a atenção se volta para o terço médio e inferior, que inclui o mento, os sulcos nasolabiais e a região perioral. Nessa área, preenchedores com propriedades intermediárias são comumente utilizados
Para áreas delicadas, como a região periorbital e os lábios, preenchedores com baixa concentração de AH e baixo G' são os mais indicados.
No terço superior da face, que inclui a testa e a região glabelar, a toxina botulínica é o tratamento de escolha para as rugas dinâmicas. No entanto, em alguns casos, preenchedores com propriedades intermediárias podem ser utilizados para restaurar o volume da testa e suavizar as linhas horizontais.
É importante ressaltar que a escolha dos produtos deve ser individualizada para cada paciente, levando em consideração fatores como idade, sexo, etnia, qualidade da pele e grau de envelhecimento. Além disso, a técnica de injeção também deve ser adaptada a cada produto e a cada região facial.
Longevidade dos tratamentos
Um dos aspectos mais interessantes e surpreendentes da abordagem full face com preenchedores de ácido hialurônico (AH) é a longevidade dos resultados.
Tradicionalmente, os preenchedores de AH eram considerados tratamentos temporários, com duração de 6 a 12 meses. No entanto, estudos recentes têm desafiado essa noção, sugerindo que o AH pode permanecer nos tecidos por períodos muito mais longos do que se pensava anteriormente.
Um estudo inovador conduzido por Master, Azizeddin e Master (2024) utilizou ressonância magnética (RM) para avaliar a presença e a longevidade do AH em 33 pacientes que haviam sido tratados na região malar. Os pacientes incluídos no estudo não haviam recebido injeções de preenchedores por pelo menos 2 anos antes da realização da RM.
Os resultados foram surpreendentes: todos os 33 pacientes apresentaram evidência de AH nas imagens de RM, mesmo após 2 anos sem tratamento. Mais impressionante ainda, 12 pacientes não haviam recebido injeções por mais de 5 anos, e um paciente apresentou AH detectável 15 anos após o tratamento.
Esses achados têm implicações significativas para a prática clínica e para o planejamento dos tratamentos. Se o AH pode permanecer nos tecidos por anos após a injeção, isso sugere que os protocolos de retratamento e "manutenção" atualmente utilizados podem precisar ser revistos.
Outro estudo, conduzido por Cartier et al. (2020), também encontrou evidências de longevidade prolongada do AH. Os autores avaliaram a duração dos efeitos do tratamento combinado com AH, toxina botulínica tipo A e skin booster em 56 pacientes. Eles observaram uma melhora progressiva e sustentada da aparência estética global da face ao longo de 18 meses, sugerindo que os efeitos do tratamento podem se estender além do período tradicionalmente esperado.
Esses estudos desafiam a noção de que os preenchedores de AH são apenas tratamentos temporários e sugerem que eles podem ter um papel mais duradouro na restauração e manutenção do volume e da estrutura facial. No entanto, é importante ressaltar que a longevidade dos resultados pode variar dependendo do tipo e marca de produto utilizado, a técnica de injeção, a região tratada e as características do paciente.
Além disso, a longevidade prolongada do AH nos tecidos levanta questões sobre a segurança a longo prazo desses tratamentos. Embora os preenchedores de AH sejam geralmente considerados seguros e bem tolerados, a presença de material exógeno nos tecidos por períodos prolongados pode, teoricamente, aumentar o risco de efeitos adversos tardios, como a formação de granulomas ou reações imunológicas. No entanto, até o momento, não há evidências consistentes de aumento significativo desses riscos com o uso prolongado de preenchedores de AH.
É fundamental que os pacientes sejam informados sobre a possível longevidade dos preenchedores de AH e sobre a importância do acompanhamento a longo prazo.
Segurança
A segurança é uma preocupação fundamental em qualquer procedimento estético, e a abordagem full face com preenchedores de ácido hialurônico (AH) não é exceção. Embora os preenchedores de AH sejam geralmente considerados seguros e bem tolerados, é importante estar ciente dos possíveis efeitos adversos e tomar medidas para minimizar os riscos.
Nos estudos analisados neste artigo, os tratamentos com preenchedores de AH foram geralmente bem tolerados, com efeitos adversos leves e transitórios. No estudo de Cartier et al. (2020), que avaliou o tratamento combinado com AH , toxina botulínica tipo A e skin booster, apenas cinco eventos adversos foram relatados após 3 semanas, incluindo inchaço, assimetria e nódulos palpáveis. Todos os eventos foram facilmente resolvidos e nenhum efeito adverso tardio foi relatado.
Da mesma forma, no estudo retrospectivo de Dhillon e Patel (2020), que avaliou 66 pacientes submetidos a rejuvenescimento facial completo, não houve aumento significativo de efeitos adversos, mesmo com o uso de volumes maiores de preenchedores.
No entanto, é importante ressaltar que a ausência de efeitos adversos graves nesses estudos não significa que eles não possam ocorrer. Complicações raras, mas potencialmente graves, como necrose tecidual, embolia e cegueira, já foram relatadas com o uso de preenchedores de AH, especialmente quando injetados por profissionais inexperientes ou em locais de alto risco, como a região glabelar e a testa.
Além disso, a longevidade prolongada dos preenchedores de AH, demonstrada no estudo de Master, Azizeddin e Master (2024), levanta questões sobre a segurança a longo prazo desses tratamentos. Embora não haja evidências consistentes de aumento significativo de efeitos adversos tardios com o uso prolongado de AH, a presença de material exógeno nos tecidos por períodos prolongados pode, teoricamente, aumentar o risco de formação de granulomas, reações imunológicas e infecções.
Para minimizar os riscos e garantir a segurança dos tratamentos com preenchedores de AH, é fundamental que os profissionais tenham um conhecimento profundo da anatomia facial, das técnicas de injeção e das propriedades dos produtos utilizados. A seleção cuidadosa dos pacientes, evitando aqueles com contraindicações ou fatores de risco significativos, também é essencial.
Além disso, a técnica estéril durante o procedimento é crucial para evitar complicações infecciosas. Isso inclui a preparação adequada da pele, o uso de materiais estéreis e descartáveis, e a técnica de injeção precisa e delicada, evitando traumatismos desnecessários aos tecidos.
O acompanhamento a longo prazo dos pacientes também é fundamental para a detecção precoce e o manejo adequado de eventuais efeitos adversos tardios. Os profissionais devem estabelecer protocolos de acompanhamento regulares e orientar os pacientes sobre os sinais e sintomas de possíveis complicações.
Conclusão
A abordagem full face com preenchedores faciais representa uma mudança significativa na forma como o rejuvenescimento facial é abordado. Ao tratar a face como um todo, levando em consideração a interação entre as diferentes estruturas e regiões, é possível obter resultados mais naturais, harmônicos e duradouros.
A combinação estratégica de toxina botulínica com preenchedores de ácido hialurônico (AH), bem como o uso de diferentes produtos com propriedades específicas para cada região facial, permite um tratamento personalizado e adaptado às necessidades individuais de cada paciente.
As evidências recentes sobre a longevidade prolongada dos preenchedores de AH têm implicações significativas para a prática clínica e para o planejamento dos tratamentos. Com uma técnica precisa e um acompanhamento adequado, é possível obter resultados duradouros e minimizar a necessidade de retratamentos frequentes.
No entanto, a segurança deve ser sempre uma preocupação central. O conhecimento da anatomia facial, das técnicas de injeção e das propriedades dos produtos, bem como a seleção cuidadosa dos pacientes e o acompanhamento a longo prazo, são fundamentais para minimizar os riscos e garantir resultados seguros e satisfatórios.
Em última análise, a abordagem full face com preenchedores faciais oferece uma oportunidade única para os profissionais oferecerem aos seus pacientes resultados estéticos superiores, mais naturais e duradouros. Com uma abordagem baseada em evidências, centrada no paciente e eticamente responsável, é possível alcançar a excelência no rejuvenescimento facial e na satisfação dos pacientes.
Referências Bibliográficas
1. Cartier, H., Hedén, P., Delmar, H., Bergentz, P., Skoglund, C., Edwartz, C., Norberg, M., & Kestemont, P. (2020). Repeated Full-Face Aesthetic Combination Treatment With AbobotulinumtoxinA, Hyaluronic Acid Filler, and Skin-Boosting Hyaluronic Acid After Monotherapy With AbobotulinumtoxinA or Hyaluronic Acid Filler. Dermatologic Surgery, 46(4), 475-482.
2. Dhillon, B., & Patel, T. (2020). A Retrospective Analysis of Full-face Dermal Filler Treatments: Product Choice, Volume Use, and Treatment Locations. Journal of Clinical and Aesthetic Dermatology, 13(9), 33-40.
3. Master, M., Azizeddin, A., & Master, V. (2024). Hyaluronic Acid Filler Longevity in the Mid-face: A Review of 33 Magnetic Resonance Imaging Studies. Plastic and Reconstructive Surgery Global Open, 12, e5934.
4. de Maio M. MD Codes™: A Methodological Approach to Facial Aesthetic Treatment with Injectable Hyaluronic Acid Fillers. Aesthetic Plast Surg. 2021 Apr;45(2):690-709.
5. Philipp-Dormston, W. G., Eccleston, D., De Boulle, K., Hilton, S., van den Elzen, H., & Nathan, M. (2014). A prospective, observational study of the volumizing effect of open-label aesthetic use of Juvéderm® VOLUMA® with Lidocaine in mid-face area. Journal of Cosmetic and Laser Therapy, 16(4), 171-179.
6. Philipp-Dormston, W. G., Hilton, S., & Nathan, M. (2014). A prospective, open-label, multicenter, observational, postmarket study of the use of a 15 mg/mL hyaluronic acid dermal filler in the lips. Journal of Cosmetic Dermatology, 13(2), 125-134.
7. Callan, P., Goodman, G. J., Carlisle, I., Liew, S., Muzikants, P., Scamp, T., Halstead, M. B., & Rogers, J. D. (2013). Efficacy and safety of a hyaluronic acid filler in subjects treated for correction of midface volume deficiency: a 24 month study. Clinical, Cosmetic and Investigational Dermatology, 6, 81-89.
8. Glaser, D. A., Kenkel, J. M., Paradkar-Mitragotri, D., Murphy, D. K., Romagnano, L., & Drinkwater, A. (2015). Duration of effect by injection volume and facial subregion for a volumizing hyaluronic acid filler in treating midface volume deficit. Dermatologic Surgery, 41(8), 942-949.
9. Rzany, B., Cartier, H., Kestemont, P., Trevidic, P., Sattler, G., Kerrouche, N., Dhuin, J. C., & Ma, Y. M. (2012). Full-face rejuvenation using a range of hyaluronic acid fillers: efficacy, safety, and patient satisfaction over 6 months. Dermatologic Surgery, 38(7 Pt 2), 1153-1161.
